26 de abril de 2007

Raquel e Saldanha ou Essa mulher é demais!!!


(versos de José Honório)

O mundo dá muita volta
não pára nenhum segundo
e muita gente é assim
vive a rodar pelo mundo
ora aqui, ora acolá
porém sem ser vagabundo.

Normalmente é o trabalho
que leva a ser desse jeito
viver nessa correria
às vezes sem ter direito
ao lazer e ao descanso
importante pra o sujeito.

Quase sempre é coisa boa
levar uma vida assim
conhecer gente e lugares
fugir da rotina, enfim
mas às vezes perde a graça
e acaba sendo ruim.

Por levar vida cigana
sem pouso, sem seu cantinho
sem o refúgio tão bom
do aconchego de um ninho
isso atrapalha e faz falta
ao bem-estar é daninho.

É como vive uma jovem
que tem nome de Raquel
que na novela da vida
faz importante papel
e por isso agora é
personagem do cordel.

Alta, linda, inteligente
um poço de simpatia
moça de muito talento
da mais sublime energia
eis só algumas virtudes
que se vê nessa guria.

Desde cedo sempre ativa
garantindo o seu lugar
se impondo entre os demais
sem ferir nem magoar
apenas com seu jeitinho
tão próprio de conquistar.

Mas o seu jeito seguro
apesar de lhe ajudar
a crescer na vida em grupo
possui um particular
parece que lhe atrapalha
na hora de namorar.

Parece até que amedronta
os homens, que coisa estranha!
por isso, o seu primeiro
namoradinho, o Saldanha
arranjou numa excursão
quando ela foi à Espanha.

Não conquistou um toureiro
nem dançarino gitano
conquistou um brasileiro
do povo de Ariano
voltou com ele da Espanha
já cheia de sonho e plano.

Porém passado algum tempo
voltando à velha rotina
as unhas vieram à tona
de uma forma ferina
e os problemas chegaram
desafiando a menina.

Desafio de cuidar
desse seu lado afetivo
e de cavar seu futuro
de modo bem decisivo
administrando os conflitos
com seu amor tão cativo.

Cativo dos seus encantos
do seu jeito sedutor
cativante e ao mesmo tempo
um pouco ameaçador
para quem era inseguro
e um aprendiz do amor.

Ela segura de si
ele todo temeroso
ela solta e envolvente
ele fechado e raivoso
bloqueado e ciumento
fazendo papel de Bozo.

Brigava sem fundamento
como foi num certo dia
que ela chamou um amigo
do curso que ela fazia
para ir à sua casa
estudar Anatomia.

Dia e tarde no trabalho
de noite na faculdade
então ao chegar em casa
quis ficar mais à vontade
foi ao quarto, pôs um short
que lhe deu mais liberdade.

Serviu logo uma bebida
ligou o som bem baixinho
pois já passava das dez
e respeitava o vizinho
além disso, ia "istudá"
com aquele seu amiguinho.

Só os dois naquele apê
com apenas duas horas
pra fazer o que queriam
não podiam ter demora
ela olhou pra ele e disse:
Vamos começar agora!

E foi logo abrindo as pernas
dos óculos e o pôs no rosto
meteram a cara nos livros
ela esperta, ele disposto
e foram até meia-noite
estudando assim com gosto.

Acontece que Saldanha
lá chegou sem avisar
nem tocou a campainha
(tinha a chave para entrar)
e ao ver os dois na sala
mostrou ele não gostar.

Fico de cara amarrada
se sentindo um grande trouxa
olhando assim com censura
para o roliço das coxas
de Raquel naquele short
e ela de raiva, roxa.

Primeiro pela invasão
da sua privacidade
segundo, pela suspeita
de alguma leviandade
coisa que ela jamais
de fazer teve vontade.

Muito embora o tal amigo
mesmo ficando calado
ao vê-la naquele short
bem curtinho e apertado
não resistiu aos desejos
e ficou meio atacado.

Desejou deixar de lado
os livros e tudo mais
e agarrar-se com ela
- Ah, seria bom demais!
mas, mesmo assim desejando-a
não tentaria jamais.

Por causa do bom-mocismo
e também da amizade
que existia entre os dois
ele conteve a vontade
respirou fundo e voltou
à normal tranqüilidade.

Mesmo assim nasceu mais uma
desavença entre o casal
briga vai e briga vem
já era coisa normal
um nascido para o outro
mas nesta atração fatal.

Até quando ela chegou
à mais dura conclusão
- Eu estou numa roubada
já tomei a decisão
Um basta definitivo
eu vou dar à relação.

E como essa, outras vezes
ela fez bem decidida
mas ele não aceitava
Dizendo aos prantos: - Querida
não faça isso, você
é a razão da minha vida.

E ela voltava atrás
pois dele muito gostava
e só queria acabar
porque não mais agüentava
a pressão do namorado
que muito lhe incomodava.

E não se via casando
para cuidar só do lar
do marido e dos meninos
tinha espaço a conquistar
pois a sua independência
vinha em primeiro lugar.

Um dia desfez-se o laço
Saldanha compreendeu
com a perda da amada
por muito tempo sofreu
mas que era melhor pra ambos
finalmente ele entendeu.

E ela ganhou o mundo
com garra, disposição
onde chega faz sucesso
da clientela ao chefão
ainda só não deu jeito
nas coisas do coração.

Teve mais uns namorados
e até noiva ficou
porém nenhum foi em frente
hoje até já aceitou
não ter mais ansiedade
e não mais se estressou.

E nem se queixa do jeito
que escolheu pra viver
cada vez progride mais
e muito mais vai crescer
porque tem bons atributos
para dar e pra vender.

E quando bate a carência
de um xodó, de um chamego
ela liga pra Saldanha
e diz: - Vem pra cá, meu nego
não importa onde ela esteja
ele diz: - Já, já eu chego.

E assim a vida segue
cada qual encontre o jeito
de amar e ser feliz
rompendo até preconceito
porque a Felicidade
é o nosso maior direito.

FIM

(Palmares, 26-04-2007)

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22 de abril de 2007

Um cordel pra Bob Marley

Ouvindo três passarinhos
Pousados à minha porta
Escrevo aqui o meu verso
Que me alegra e conforta
Mesmo que o pensamento
Viaje por linha torta.

Jah me deu o maior barato
E uma voz então me segue
Dizendo: - poeta vá
Em frente, você consegue
Falar sobre Bob Marley
O eterno rei do reggae.

Ouvindo o som dos seus hits
Numa atitude bem laica
Volto os olhos pro passado
Porém sem visão arcaica
E mergulho com prazer
Nesse mito da Jamaica.

Seu viver foi baseado
Na rastafari cultura
Até com a erva sagrada
Sua atitude era pura
Assim como seus cabelos
Também era uma postura.

Seu jeito de ver a vida
Sua arte e a militância
Era um todo indivisível
Era a sua substância
Por isso fez-se influência
Mesmo estando noutra instância.

De Kingston pra Jamaica
Da Jamaica para o mundo
O menino Bob foi
Um primeiro sem segundo
Até hoje não surgiu
Outro rasta tão fecundo.

A morte rondou-lhe à bala
Num serviço encomendado
Porém Jah lhe protegeu
Skapou do atentado
Pra falar mais forte ainda
Em favor do injustiçado.

Reggae, Rei, Recife, Raça
Os erres da resistência
Revolta, revolução
Reinado da renitência
Remando por rio acima
Re-ligando a consciência.

Rastafari, um pensamento
Um movimento ou um guia
Um jeito de ver a vida
Sendo assim, filosofia
Dando base às atitudes
De protesto e rebeldia.

O reggae como canal
De fazer ouvir a voz
De toda periferia
Que luta contra o algoz
Que se escancha no Poder
Sempre tão mal e feroz.

Dreadlocks não se podam
Nem se poda a liberdade
Bem maior que Jah doou
Para toda humanidade
Quando isso for praticado
Só reina a Felicidade.

Escravagista diáspora
Esquartejando uma raça
E levado ao Novo Mundo
O negro com garra e graça
Fez valer os seus valores
Mesmo com tanta ameaça.

Bob diz: - África una-te
Está passando da hora
A África que há na África
E as que há por mundo afora
Nos guetos e nas favelas
Onde há fome e a dor mora.


Que exista uma só África
Brasil, Jamaica, Benin
África no peito e na mente
Nele, em você e em mim
Nos sons da Tribo de Jah
Dreadlocks e pixaim.

Sons que foram se moldando
Conforme o novo ambiente
Combinações que se nutrem
De uma forma permanente
Reggae, samba, coco, jongo,
Xote, embolada, repente.

Baião, frevo, jazz e blues
Cacuriá, zabelê
Maracatu, caxambu
merengue, maculelê
Forró, salsa, carimbó
Calypso, cateretê.

Bob irmão de Malunguinho
Do Rei Zumbi de Palmares
De Fabião das Queimadas
E de tantos avatares
Exemplos de fortes negros
Anônimos há aos milhares.

Marley partiu, mas deixou
Para nós grande legado
O reggae cobriu o mundo
Entre nós é cultuado
Cava espaço, mostra força
Pereniza o seu reinado.


Desde Walter de Afogados
E o Valdir Afonjá
Bantus Reggae, Manga Rosa
Massativa, Jerivá
Favela Reggae, Brasáfrica
Libertária, Flor de Jah.


Reggai por Nós, Canto Reggae
O Sol tá Massa, N´Zambi
Malungos, Tambor Falante
Matoso, Tonami Dub
Malakai, Abole Gueto
É o reggae dentro do mangue.


Outro guerreiro é o Ívano
E a sua Rebeldia
Mais o Marcelo Santana
Vozes da periferia
Com eles Recife rega
O reggae com ousadia.


É pra Jah, Neblina Reggae,
Rama Seca, Kayamar
Mandala, Anama Roots
Fazendo o povo “reggar”
E muitas e muitas outras
Que não dá nem pra citar.


Peço perdão a quem não
Foi citado nesta lista
Não se trata de exclusão
Nem complô capitalista
Foram as limitações
Dos versos do cordelista.


A terra do frevo rende
Ao reggae sua homenagem
Salve a nossa negritude
Nossa atitude e coragem
Salve o reggae e Bob Marley
Salve o povo e a brodagem.

11 de abril de 2007

Parabéns Unicordel!

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.

Dia 11, mês abril

Em 2005 o ano

A tropa de cordelistas

De novato a veterano

Com idéia resoluta

Partiram juntos à luta

Com decisivo papel

A Unicordel criaram

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.



Mercado da Boa Vista

Onde tudo começou

Por email fez-se o convite

E a turma lá chegou

E demonstrando vontade

De despertar a cidade

Pra arte do menestrel

Desde então não mais pararam

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.



Com palestras, oficinas

Debates e recitais

Levando cordel ao povo

Ficando sempre em cartaz

A Unicordel vai bombando

Mais poetas se agregando

Engrandecendo o plantel

E na luta se engajaram

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.


Que isto é só o começo

Todos temos consciência

Foram dois anos de garra

Dois anos de resistência

Cavando apoio e espaço

E sem dar vez ao fracasso

Com o olhar firme no céu

E os novos sonhos não param

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.



Parabéns ao companheiro

Que da luta não arreda

E mesmo frente ao tropeço

Ajuda erguer-nos da queda

Age com perseverança

Pois pra quem tem esperança

Cada feito é um troféu

Que pra nós já reservaram

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.

Damos viva a quem apóia

Esta nossa militância

Cada qual faz a seu modo

Mas com a mesma importância

Nossa grande gratidão

Dos que conosco estão

Formando um público fiel

E sempre prestigiaram

DOIS ANOS JÁ SE PASSARAM
FORTALECENDO O CORDEL.

8 de abril de 2007

A Buchada ou O Aniversário de Julita

Licença, quero contar
uma historinha engraçada
sobre a festa de Julita
onde teve uma buchada
que quase termina em crime
mas transformou-se em piada.


Pedro Caracu de Lima
era um velho solteirão
que vivia reclamando
por viver na solidão
até que achou com quem
compartilhar o colchão.


Já passava dos sessenta
quando casou com Julita
morena, muito vistosa
melhor dizendo, bonita
daquela que quando passa
a macharia se agita.


Tinha ela um derrier
por demais avantajado
dava até a impressão
que este seu predicado
era por dormir na rede
que tinha o fundo furado.


E devido à diferença
de idade que existia
sempre, sempre na cidade
alguém lhe advertia
sobre o perigo de chifres
ao que ele respondia:


- "Cavalo véi, capim novo"
é um ditado perfeito
comer filé com os amigos
sei que tiro mais proveito
que comer "péia" sozinho
e à carne não ter direito.


Quando ela fez trinta anos
ele disse à camarada:
- Vamos festejar esta data
de forma bem animada
a gente chama os amigos
pra comerem uma buchada.


Na data pactuada
os dois estavam postados
à entrada do casebre
recebendo os convidados
fazendo as honras da casa
pra todos recém-chegados.


De ver tanto homem assim junto
Julita não escondia
o grande contentamento
todo mundo percebia
diante das piscadelas
aos homens que recebia.


Parecia um cacoete
um tique-tique nervoso
impressão que foi desfeita
quando chegou bem fogoso
Urutabão "Bate-o-Bombo"
um mancebo donairoso.


Com 23 anos de idade
dois metros de envergadura
nas rodas do "Carretel"
era uma constante figura
mesmo sendo bebe-quieto
fazia muita loucura.


O piscar dos olhos dela
dos homens tirava a calma
Pedro a tudo assistia
sem preconceito, sem trauma
aos requebros tão dengosos
de peito, traseiro e alma.


A buchada era bem farta
e por sinal muito boa
preparada por Nidinha
uma excelente pessoa
e também alcoviteira
das "fugidas"da patroa.


Enquanto o povo comia
na maior "delicadeza"
Urubatão e Julita
tocavam os pés sob a mesa
e telepaticamente
acertavam a sobremesa.


Quando findou o almoço
e o povo se retirou
a ausência de Julita
foi que Pedro então notou
lembrou que Urubatão
pela porta não passou.


Então lhe veio o estalo
do que ia acontecer
correu bufando pro quarto
deu um grito pra valer:
- Se os dois brincar, agora
"tejam" certos, vão morrer!


Julita correu aos gritos
fazendo grande alarido
Urubatão levantou-se
já de todo prevenido
apontando o seu revólver
para o marido traído.


- Vou morrer de que, seu corno?
perguntou ao camarada
Pedro disse calmamente
com a voz resignada:
- de indigestão... Buchada
é comida muito pesada.


Quando Pedro disse assim
Urubatão se acalmou
e guardando a sua arma
altivo se retirou
Julita pediu perdão
e Pedro lhe desculpou.


Mas aconteceu porém
que tinha alguém escondido
assistindo a tudo isso
que havia acontecido
e lá no bar da sinuca
contou todo o ocorrido.


Já fazia uma semana
que o fato tinha se dado
Pedro soube que Mané
Salu tinha boatado
- "Vou tomar satisfações
com aquele cabra-safado".


- Perguntou: - Salustiano,
quero saber... É verdade
que você anda espalhando
por toda nossa cidade
que sou corno convencido
ou isto é falsidade?


- Mané estava calado
e calado ali ficou
Pedro perguntou de novo
e Salu não respostou
Pedro disse: - Está com medo?
Repita, então se falou!


Com grande calma, Salu
pôs o cigarro no chão
levou a mão à cintura
puxou sua "conceição"
uma doze polegadas
e a enterrou no balcão.


Cuspiu de lado e falou
como fosse aconselhar
Pedro, você é um corno
isso não pode negar
bastar deixar de ser corno
que eu deixo de falar...


E Pedro bem cabisbaixo
saiu dali descontente
foi pros braços de Julita
chorou copiosamente
lembrando toda vergonha
que passou recentemente.


E Julita consolava
o desditoso marido
dizendo: - Não chores não
ao povo não dê ouvido
eu te amo, tu me amas
é o que importa, querido!


Eis aí caros leitores
uma história bem real
que se deu em Itabaiana
que é cidade natal
do cronista Erasmo Souto
memorialista sem igual.


Através de seus relatos
que achei muito bacana
desenvolvi esta história
que mesmo sendo sacana
ela atesta que se deu
na pacata Itabaiana.


Honório transpôs pro verso
O que Erasmo contou
Naquele livro primeiro
Onde ele relatou
Relíquia da mocidade
Imagens duma cidade
Onde ele se criou.


FIM
TIMBAÚBA-PE, JUL/90.

1 de abril de 2007

A gordinha que se deu bem por causa da Internet


(Versos: José Honório)

Essa tal de Internet
Não há quem possa negar
Trouxe muitos benefícios
Pra quem dela precisar
Também trouxe coisa ruim
Por isso é bom se cuidar.

Nela há como aprender
Dar cabo da própria vida
Fazer bomba, terrorismo
A lista é muito comprida
Dos malefícios que ela,
A Internet, é servida.

Golpes, roubos à distância
Surgem vários todo dia
Também nela se encontra
Sítios de pedofilia
Apologia ao racismo
E também à anarquia.

Tem mulher sendo atraída
Para armadilha fatal
Querendo encontrar um príncipe
Vai pra mão de marginal
Acha a morte quando sai
Do virtual pro real.

Das coisas boas da net
A lista é bem mais extensa
Cada vez aumenta mais
Numa rapidez imensa
A intenção de quem usa
É que faz a diferença.

Informações que se cruzam
Ajudando a salvar vidas
Idéias que perambulam
Nas virtuais avenidas
Levando planeta afora
Atitudes decididas.

Dos quatros cantos da Terra
Faz-se possível o contato
Pra conversar, pra comprar
Às vezes até mais barato
E recebendo na porta
Quase que de imediato.

Amigos que se descobrem
Depois de tempo afastados
Amigos que se conhecem
Sem terem se avistados
Amizades que se nutrem
Pelos toques dos teclados.

Paixões nascendo e formando
Os mais diversos casais
Que descobrem seus parceiros
Por meios não triviais
Nas salas de bate-papo
E namoros virtuais.

Como aconteceu com P.
Que vivia deprimida
Se sentindo mal-amada
Sem achar graça na vida
Só encontrando prazer
Quando a coisa era comida.

Por isso ficou obesa
Se achando uma baleia
Porém não fechava a boca
No café, almoço ou ceia
E nem queria saber
Se lhe achavam bela ou feia.

Era mesmo um mulherão:
Quase dois metros de altura
Comendo como comia
Se ampliou na largura
Quase cem quilos de tara
Diluídos na gordura.

Se tinha o peso em excesso
Tinha também o tesão
Mas não se via capaz
De encontrar um gatão
Que por aquela gordinha
Sentisse alguma atração.

Porém um dia uma amiga
Na net lhe apresentou
Um amigo virtual
Com quem um papo travou
E nesse papo primeiro
Um certo clima pintou.

Depois de muita paquera
De teclado pra teclado
Resolveram se encontrar
Porém no dia marcado
Ele não compareceu
Como haviam combinado.

Ela sentiu-se na "merda"
Mais uma vez rejeitada
Pondo culpa na gordura
Se achando condenada
A viver sem ter prazer
E somente sendo usada.

No entanto concedeu
Nova chance ao camarada
E nessa segunda vez
Acabou recompensada
Com momentos tão incríveis
Que até hoje está passada.

Foi muito grande a surpresa
No seu encontro primeiro
Se foi só esse, quem sabe?
Não se conhece o roteiro
Mas mesmo se foi o único
Seu valor foi verdadeiro.

Quando que ela pensava
Em fazer isso algum dia?
Se encontrar com alguém
Que ela não conhecia
No entanto dentro dela
Um forte desejo ardia.

Chutando o pau da barraca
Querendo dar uma guinada
Pensou: - Nem quero saber
Estava muito empolgada
Imaginando a sessão
De amor com o camarada.

Além do mais, quem diria?
- Nunca tive um homem assim
Bonito, forte, imponente
É muito mesmo pra mim
Um deus grego desse, vixe!
É fogo em meu estopim.

Ela toda ansiedade
Ele calmo e competente
Disse pra ela: - Relaxe
Calminha, não se apoquente
Deixe comigo que eu cuido
De nós dois daqui pra frente.

Olhou-a de baixo à cima
Quase que vira o pescoço
De tão alta que era ela
Nela não viu um só osso
E aqueles quase cem quilos
Não afugentou o moço.

Estavam em devaneios
Na intenção de curtir
Aquele momento único
E não podiam partir
Direto para o bem-bom
Tinha que deixar fluir.

Porém foi lhe tratando
Como um nobre cavalheiro
Depois virou um moleque
Daquele bem presepeiro
Chegando a brincar com ela
De guerra de travesseiro.

Foi assim crescendo o clima
De ansiedade e sedução
Seus corpos se desejando
Transpirando de tesão
Corações acelerados
Também a respiração.

Ajustou a luz do quarto
Deixando um tom de lilás
E já desnudos os corpos
Seus eflúvios sensuais
Incensaram o ambiente
Fazendo-os quererem mais.

Explorou cada milímetro
Daquela mulher tão vasta
Confirmando que a danada
Não tinha nada de casta
E no esporte do sexo
Parecia uma ginasta.

E das teclas para as tetas
Seus dedos se deslocaram
A língua também foi cúmplice
Suas bocas se encontraram
Em beijos alucinantes
Mais de uma hora passaram.

E tome mãos atrevidas
Dedos afoitos também
Passeando sem pudor
Indo até no mais além
Do possível e esperado
Porém lhes fazendo bem.

Depois das preliminares
(Durou uma eternidade!)
Partiram para o serviço
Para a “hora da verdade”
E aí o cancão piou
Foi grande a felicidade.

Dando início aos finalmentes
Ela teve outra surpresa
Ao descobrir que o parceiro
Era mesmo um pé-de-mesa
No tamanho e na grossura
Foi-lhe boa a natureza.

De início se assustou
Nunca viu calibre igual
- Depois dessa estou lascada
Que coisa descomunal!
Será que tenho abertura
Para agüentar esse pau?

No entanto estava ali
Para o que desse e viesse
Não ia dar “ré pra trás”
Pudesse dar no que desse
Pra ter algo como aquilo
Tem até quem faça prece.

Sendo assim, seguiu em frente
Deixou por conta do bode
Pensando: outras conseguem
Por que essa aqui não pode?
Se benzeu e decidida
Se entregou ao pagode.

Como mulher consciente
Informada e prevenida
Perguntou: - e a camisinha?
Ele disse: - Minha querida
Eis aqui, é com você
Prontinha pra ser vestida.

Quem foi que disse que ela
Sabia como fazer?
Ficou toda atrapalhada
Sem querer reconhecer
Que era a primeira vez
Não parava de tremer.

Primeira vez que transava
Naquela situação
Antes só com seu marido
E aí precisava não
De usar preservativo
E nem daquela emoção.

E foi ficando sem graça
Por se ver pagando um mico
Mas ele tomou as rédeas
- Pode deixar que eu aplico
Você só olha e aprende
Se precisar eu te explico.

Depois da bicha vestida
Nada de maior espera
Partiram para o serviço
Ele mostrou ser um fera
Ela tal qual Afrodite
De fazer inveja à Hera.

Os seus corpos se juntaram
Sem querer mais separar
Grunhidos, gritos, sussurros
Ali se pôde escutar
Subiu a temperatura
Viu-se a hora incendiar.

Pegar fogo nos lençóis
As paredes irem ao chão
Tamanho o vuco-vuco
Daqueles dois em ação
Amantes em plena entrega
Aos caprichos do tesão.

Foram horas de prazer
Aventura inesquecível
Principalmente pra ela
Que não achava possível
Novamente estar vivendo
Momento assim tão incrível.

Gastou tantas calorias
Que ia ficar insone
Mas aí não teve dúvida
Pegou logo o interfone
E pra recobrar as forças
Mandou vir um canelone.

Não ia comer sozinha
O canelone fornido
Mas ele se recusou
Dizendo já estar nutrido
Pois o que ele queria
Ele já tinha comido.

Depois da manhã de amor
Cada qual foi pro seu lado
O destino se encarregue
De traçar o resultado
Pois o "hoje" foi vivido
Do modo mais desejado.

Talvez seja um início
Talvez não mais se repita
Talvez lembrança, ou talvez
Esporádica visita
De qualquer forma que for
Nada disso a deixa aflita.

Já se sente satisfeita
Pois fez o que há muito quis
Sentiu-se de novo fêmea
Viveu momentos febris
Se acha ainda baleia
Porém baleia feliz.

Lembrando que essa história
Na net teve o começo
Vê-se que um final feliz
Aconteceu sem tropeço
E que nem sempre se paga
Pelo prazer alto preço!

(Recife-01-04-2007)