2 de junho de 2008

As putas que nós parimos

Dizem que ela é a mais
Antiga das profissões
Talvez nisso se exagere
Por desfocadas visões
Ou pra dizer que faz parte
Das sociais relações.

Importa pouco saber
Há quanto tempo ela existe
Pois no terceiro milênio
Ela com força resiste
E da forma como é feita
É fato cruel e triste.

Se há quem preste o serviço
Da concessão do prazer
É porque há quem procure
Para se satisfazer
E se disponha a pagar
Para o prazer obter.

Um prazer que não precisa
De paga para se tê-lo
No entanto o moralismo
Criou o tabu do selo
Disse isso pode, isso não
Deu-se aí o desmantelo.

A mulher ficou tolhida
De exercer a natureza
Conforme fosse o desejo
E por isso ficou presa
Ora à rainha do lar
Ora à deusa ou à princesa.

E aquelas que transgrediram
Encarnaram o lado ruim
Na fogueira ou sob pedras
Deram-lhe tristonho fim
Como aviso para as outras
Não façam também assim.

E não sendo a morte física
Vinha o castigo moral
E tratadas com desdém
Como estorvo social
Com seus direitos tolhidos
Pelo poder estatal.

No entanto não se fala
Da outra parte envolvida
O homem que vai atrás
Do que faz a “pervertida”
Pois tem coisas que são só
Para as “mulheres da vida”.

E com esse pensamento
A humanidade seguiu
No falso puritanismo
Deixando a mulher servil
E para o prazer do homem
A classe puta pariu.

E paridas como párias
Levam vida dividida
Lembram alegria, prazer
Numa existência sofrida:
Humilhação, violência
Auto-estima combalida.

Exploradas, perseguidas
Expondo o corpo nas ruas
Tentando encontrar quem queira
Se valer das carnes suas
Ou nas casas de recursos
Qual a menos ruim das duas?

E se muitos casamentos
Por elas foram rompidos
Certamente muitos outros
Conseguiram ser mantidos
Graças aos serviços prestados
A alguns desses maridos.

Há quem entra nesse ofício
Por simples gosto, vontade
Mas a grande maioria
O fez por necessidade
Levada à força por conta
Desta vil sociedade.

Às vezes de casa expulsa
Por perder a virgindade
Por estupro incestuoso
Outra vil fatalidade
Muitas também pela fome
Por passar necessidade.

Vão assim prostituídas
Buscar a sobrevivência
Em lugares insalubres
À mercê da violência
De cafetões e clientes
Sem piedade ou clemência.

Sujeitando-se a doenças
E também à exploração
Sacrificando a família
Sofrendo perseguição
Ás vezes se escravizando
Sem ter qualquer opção.

E fica à margem da lei
Exercendo tal ofício
Dos amparos sociais
Não recebe benefício
E assim pra se manter
Usa de todo artifício.

O vinho, a cama, o prazer
Momentâneas fantasias
Os prazeres sem limites
Das farras e das orgias
São só uma das faces
Do que acontece em seus dias.

Junho/2008