19 de outubro de 2009

Lembrei novamente que tenho um blog e, sem inspiração, deixo apenas algumas anotações avulsas sobre as experiêrncias vividas nos últimos dias...
... Sábado passado (17-10) estive em mais uma capital nordestina: Aracaju-SE. Cheguei de madrugada e retornei no meio da tarde, tempo apenas suficiente para cumprir minha missão de palestrante, conhecer gente boa do meio cultural (principalmente da cena musical), fazer novos amigos e me deliciar com uma apetitosa moqueca mista, antecedida e acompanhada de alguns copos de Skol geladinha que só. Valeu, Thalles, pela oportunidade.

... Nesta quarta-feira, dia 21.10, um grupo de estudantes do município de Japurá-PR , sob o comando da Porfª Maria Costa, encenará o meu cordel "Sidrião e Maristela ou A Goiaba da Discórdia, dentro da programação do FERA COM CIÊNCIA 2009, evento que acontece de 19 a 23.10, na cidade de Cianorte e é realizado pela Secretaria de Educação do Estado, envolvendo alunos e professores de alunos de escolas de 11 municípios do noroeste paranaense, num público total de 1.250 participantes, ematividades de artes, música, dança, teatro, esportes, brinquedos, brincadeiras, ginásticas, lutas, jogos, cultura regional, artes visuais, história e memória, além de fóruns de estudo e discussões. Leia mais

... Cordel com toda força neste mês de outubro. Primeiro, mais uma vez marcou forte presença na Bienal do Livro de PE, onde inegavelmente o estande da Unicordel foi o mais visitado dentre os que ofereciam folhetos. Passada a bienal, chega a vez da Semana da Ciência e Tecnologia, onde a Unicordel terá intensa participação nas atividades que serão realizadas nos dias 20 e 21, no hall do Centro de Convenções da UFPE, sob o comando da Profª Cida Nogueira.

... Preciso equalizar melhor meus neurônios para não ficar nessa crise de esterilidade poética. Começo rabiscando uns versos, mas quase sempre acabo é centrando minha atenção a elaboração de projetos, relatórios e informes. Doideira isso. A burocracia detonando a arte. Gosto disso não!

16 de agosto de 2009

Semente que vira fruto

O verso nem sempre vem
Manso, domado, contido
Às vezes só chega arisco
Sugerindo outro sentido
A mensagem se refaz
Perante a rima voraz
Deixa o poeta aturdido.

A poesia é a essência
Um estado puro e bruto
É por meio das palavras
Semente que vira fruto
Toma forma de poema
Dá solução ao problema
Assumindo outro atributo.

O metro não sendo algoz
Mas um recurso excelente
Constrói com rimas o ritmo
E estando este presente
Dá beleza e encantamento
Forte, fraco, rápido, lento
Conforme a voz que o invente.

E com palavras e seus sons
Molda-se divina massa
Que se entrega ao poeta
A qualquer hora e de graça
Amante pronta pro gozo
E ele sendo caprichoso
Com ela não se embaraça.

Se castiço ou desbocado
Se laudatório ou ferino
O poema faz seu rumo
Desenha o próprio destino
Nele havendo poesia
Peita toda hipocrisia
Vira oração, vira hino.

Ora vindo de veneta
Como o que se improvisa
Ora painel de azulejos
Justaposição precisa
Pedra assentada com calma
Onde argamassa é a alma
Que na arte se eterniza.

Recife, 16 de agosto de 2009.

9 de agosto de 2009

Versos para o Dia dos Pais

Meu amigo Felipe Júnior, cordelista e editor da Cactus Cordelaria, convidou a mim e a outros poetas para glosarem o mote NÃO QUERO O DIA DOS PAIS/SEM TER PAPAI AO MEU LADO, a fim de compor um cordel coletivo. Não é bem minha praia escrever sobre temas como este sugerido pelo mote, mas como não cabe recusa a pedido de amigo, sai pra minha caminhada dominical (a única da semana, por enquanto) esperando dar na veneta algum estalo de verso sobre o assunto. Ainda no elevador, veio-me o impulso de assumir o poeta fingidor e dar voz a algum "filho de mãe sem pai". Segui pelas ruas do bairro driblando os buracos das calçadas, os cocôs dos cachorros e até uma inesperada faixa de anúncio de venda de imóvel fixada com arame entre dois postes numa "altura tão baixa" que fui obrigado a me curvar para não dar de caracom tão inadmissível obstáculo. Entre uma passada e outra, os versos iam se interligando e guardados na cachola, para depois serem transplantados para o computador.

Já no retorno, passei em frente à Casa de Repouso São Francisco, onde vi, próximo ao portão, três velhinhos conversando, e próximo à entrada, um carro estacionando de onde saiu uma mulher com um pequeno bolo, que, de imediato, imaginei ser para um dos hóspedes estalecimento. Ato contínuo, veio-me mais uma maneira de explorar o mote que nos foi dado, e assim, sem muito esforço, consegui atender à demanda do Felipe e lhe enviei as seguintes estrofes:

GLOSA 1:
Foi grande a sua omissão
Da minha vida um ausente
Jamais me deu um presente
Nem mesmo me deu lição
Qual o seu nome? – Sei não!
Nunca me foi revelado
Porém se eu fosse informado
Onde ele está, ia atrás
RUIM NO DIA DOS PAIS
NÃO TER MEU PAPAI DE LADO.

GLOSA 2:
Por causa do meu estilo
De viver na correria
Achei que melhor faria
Mandar papai pro asilo
Aqui eu vivo tranqüilo
Ele lá é bem cuidado
Todo ano é visitado
E ganha mimos demais
NÃO PASSO UM DIA DOS PAIS
SEM TER PAPAI DO MEU LADO.

28 de julho de 2009

De Garanhuns a rios e Pontes


Paulo Moura declamando no palco Cuiltura Popular - FIG 2009 (Garanhuns-PE)

Cumprida a missão de levar a Unicordel ao Festival de Inverno de Garanhuns, onde estivemos com estande no Pavilhão de Artesanato, recital no palco Cultura Popular (Av. Santo Antônio) e participação no recital aberto da Casa da Palavra (Avenida Santa Rosa), consigo relaxar e mexer novamente com os versos.

Através do orkut, a pesquisadora Bethânia Pontes fez contato comigo (por sugestão da minha amiga Lina Fernandes-Rádio Folha) pedindo versos que tratassem de águas e/ou rios, para ilustrar um trabalho seu sobre o Rio Paratibe. De imediato, apresentar-lhe alguns cordéis que conheço sobre tais temas, escritos pelos amigos Altair Leal, Ismael Gaião e Isabel Lima, além de alguns versos que fiz para o Rio Capibaribe, apresentados no 24/11/08, lá no Capibar, no Dia do Rio. Achei pouco e acabei fazendo também algumas estrofes para o rio objeto de sua pesquisa. Ei-las:

Pirá ty pe ou Paratibe

São os nomes aplicados

Ao “rio das águas claras

E dos peixes prateados

Expressões que do tupi

Vieram, conforme eu li

Em textos me apresentados.

Mas é dos tempos passados

Água assim tão cristalina

Porque a poluição

Com sua força ferina

Lhe golpeia tão feroz

Agride de forma atroz

Qual raio da silibrina.


É no Riacho da Mina

Que se dá sua nascente

Com o Riacho do Boi

Se encontra mais a frente

Vira então o Paratibe

Deixando Camaragibe

Segue seu curso indolente.


No entanto, infelizmente

O tal curso é um calvário

Vai se enchendo de dejetos

Da nascente ao estuário

Se poluído não fosse

Ao juntar-se com o Rio Doce

Seria extraordinário.

(26/07/09).

Concluindo, para celebrar a conquista de uma nova amiga, escrevi mais uma estrofe brincando com o seu sobrenome:

Muito improvável existir
quem seja mais indicado
para falar sobre RIOS
desse jeito apaixonado
do que alugém que já tem PONTES
desde que foi batizado.







3 de julho de 2009

Unicordel na Fenearte 2009

Estande da Unicordel, da direita para a esquerda: Presidente da AD-DIPER,
Jenner Guimarães; presidente da Unicordel, José Honório; e as primeiras-
damas, Regina Terezinha e Aparecida França.

03 de julho. Primeiro dia da X Fenearte-Feira Nacional de Negócios do Artesanato. Todo desgaste compensado. O estande ficou bonito, o povo passando e dizendo: - Eita, cordel!
Como previsto, os folhetos sobre Michael Jackson fazendo o maior sucesso. Por enquanto, temos os de Altair Leal e de Marcelo Soares. Mas daqui pro fim da feira vão aparecer mais.

Muita gente visitando nosso espaço. Tivemos a presença do cordelista Dodó Félix, de Belo Jardim, dentre outros poetas. Lá estiveram presentes também Jenner Guimarães e esposa, e a rainha do forró e ai , a cantora Irah Caldeira.
Da direita para a esquerda: Aparecida França, José Honório,
Irah Caldeira, Cícero Lins e Altair Leal.


28 de junho de 2009

Poesia Popular no São João 2009.


Poeta Ismael Gaião declamando no Arraial do Cordel (Recife-PE)


Recife, Olinda, Caruaru e Arcoverde incluíram poetas na programação oficial. A Academia Caruaruense de Literatura de Cordel fez bonito no pólo Cultura do Repente. A Unicordel mandou ver com o Arraial do Cordel. O Quartas Literárias de Olinda levou pro coreto da Praça da Abolição (ou da Preguiça, como é conhecida) poetas da tradição e urbanos. Também no Recife, poetas declamaram nos principais pólos juninos: Sítio da Trindade, Pátio de São Pedro e Praça do Arsenal.
É a poesia popular se esparramando mundo afora, conquistando espaços e se afirmando por sua força, beleza e encantamento.
Isso é só o começo.

22 de março de 2009

Cordel: Um forasteiro no carnaval de Olinda



A convite de Rodrigo
Um primo muito legal
Viajei quase três horas
Com destino à capital
Para ir até Olinda
Conhecer seu carnaval.

No Sábado de Zé Pereira
(Lá se diz Sábado do Galo)
Cheguei bem cedo no TIP
E fiquei a esperá-lo
E andei tanto lhe esperando
Que no pé ganhei um calo.

Quando o primo apareceu
Já chegou agoniado
Dizendo: - vamos, se avexe
Que a gente está atrasado
O Galo está já saindo
- Eita folião danado!

E ele tinha razão
O galo não demorou
É que na pressa, meu primo
Num batente tropeçou
Bateu com a testa no chão
E nela um galo ganhou.

Nós seguimos de metrô
Para o centro da cidade
Os vagões foram se enchendo
De foliões de verdade
Para chegar lá no Galo
Era grande a ansiedade.

Tinha gente pra dedéu
Em tudo quanto é lugar
Tinha até dentro do rio
Você pode acreditar
Nas ruas, um imprensado
No céu, um sol de lascar.

Já perto das duas horas
O Galo fervia ainda
Então meu primo Rodrigo
Encontrou-se com Lucinda
Que chamou a gente para
Ir brincar lá em Olinda.

E do Galo pra Olinda
Seguimos num desadouro
Lucinda deixou o carro
Lá perto do Giradouro
A essa altura meu calo
Já tinha largado o couro.

Andamos quase uma légua
Para chegar na folia
E eu já de pernas bambas
Sem carga na bateria
Mas depois de um retetéu
Recobrei a energia.

Subi e desci ladeira
Sem tá pagando promessa
Muitas vezes não sabia
Se ía por essa ou essa
Mas seja qual fosse a escolha
Sempre tinha gente à beça.

Para cortar o caminho
Entre becos me joguei
Mas com o fedor de mijo
Até mal quase passei
Ô imundície da gota!
Por pouco não vomitei.

Segui o Boi da Macuca
Com Benedito no fole
A essas alturas eu
Já estava todo mole
Pois cada latinha era
Tomada de um só gole.

Quando passou Flor da Lira
Eu quase me desmantelo
Inventei de dar em cima
Da garota do flabelo
Mas seu noivo chegou junto
E eu quase fiquei banguelo.

Na Rua Treze de Maio
Não há quem faça uma ideia
Era tanto frango junto
Tal qual abelha em colmeia
Tinha mais frango do que
A Granja da Mauriceia.

E ainda nessa rua
Encontrei turma animada
Tinha quase dez mulheres
Cada qual mais arrumada
Vendo o harém, disse: “ô
Vida boa, aperriada!”

Ao menos uma eu agarro
Disse com convicação
Mas logo vi que ali
Não era para mim não
Pois descobri que as doidas
Eram tudo sapatão.

Às vezes pensava estar
Em Sodoma ou em Gomorra
Ao ver o “Segurucu”
Ou “Diz que Me Ama, Porra!”
Quem não agüentar rojão
Pra bem longe deles corra.

Corra também do Patusco
Se afaste do D´Breck
Se duvidar do que digo
Com os próprios olhos cheque
Fuja de lá se benzendo
Ou também vire moleque.

Porque a troça é Ceroula
Descobri naquele dia
Pois entrei no rugerruge
Vestido, mas na agonia
Eu saí só com a cueca
Mesmo assim quase a perdia.

Faltou chão e faltou fôlego
Cheguei até flutuar
Quando chegou no Amparo
Fiquei suspenso no ar
Juro que pensei que o mundo
Estava pra se acabar.

Lá na Bodega de Véio
Eu jantei pão com salame
Só pensando no cuscuz
Em macaxeira e inhame
Mas primo disse:- encha o bucho
Lamba o beiço e não reclame

Tudo isso foi fichinha
É verdade, meu amigo
Porque lá nos Quatro Cantos
Enfrentei maior perigo
É que o Tarado da Sé
Quase acabava comigo.

Lá ia eu todo ancho
Dentro da troça animada
Quando o boneco girou
E me deu uma mãozada
Que eu fiquei zonzo, zonzo
Com aquela chapuletada.

Anoiteceu e então
Pensei que teria fim
Esta cruel maratona
Mas Rodrigo disse assim:
Vamos lá pro Guadalupe
Pra saída do Alafim.

E depois do Alafim
Sonhava eu com a pernoite
Mas fomos pro Bonsucesso
Enfrentar um novo açoite
Na saída do boneco
O Homem da Meia Noite.

A Cidade Alta inteira
Num só dia eu conheci
E já nascendo o domingo
Alegrei-me quando eu vi
Rodrigo entregar os pontos
Na sede do Cariri.

Mais de cinco da manhã
Foi que em casa chegamos
Depois de tanta folia
Rodrigo e eu apagamos
Às onze horas, o primo
Acordou dizendo: - Vamos?

- Vamos pra onde, sujeito
Será que dei na mãe minha?
Disse ele: - pra Olinda
Nossa turma está todinha
Nos esperando na troça
Tanajura com Farinha.

É capaz de já estarem
No Mosteiro de São Bento
Respondi-lhe: - Pode ir
Outra dessa eu não agüento
Vou ficar aqui sozinho
Nas pernas passando ungüento.

Quando passou o cansaço
Pra meu lugar eu voltei
O resto do carnaval
Só descansando passei
Ouvindo “pa-pa-pa-pa...”
Por muitos dias fiquei.

E agora, tempos depois
Lembranças chegam na mente
Desse carnaval tão louco
Tão típico, tão diferente
Que por mim não vou perder
Mais nenhum daqui pra frente.

FIM

Fevereiro/2009

Frevo e bolero




Nos últimos dias vinha tentando exercitar a estrutura do decassílabo e uma temática mais engajada, porém o esforço tem sido em vão, ficando as estrofes incompletas, as idéias presas na mente e os versos com pés quebrados.

Neste sábado, numa atitude desesperada, armei um cenário que julguei favorável à inspiração: liguei o som, peguei uma latinha de cerveja, liguei o micro, mas... nada.

Vez por outra um verso saindo capenga, mas nada de proveito. Inconformado com esta letargia, acabei escrevendo um desabafo neste metapoema:


Nesta tarde me quero assim recluso

Só entregue ao meu copo e aos meus discos

Absorto teclando os meus rabiscos

Cada qual mais disperso e mais confuso

Minha mente embotada por desuso

Não comunga os versos como eu quero

Para frente e pra trás, num lerolero

Sem ter rumo, sem base, sem relevo

Como quem se esforça em dançar frevo

Com alguém que só quer dançar bolero.