16 de agosto de 2009

Semente que vira fruto

O verso nem sempre vem
Manso, domado, contido
Às vezes só chega arisco
Sugerindo outro sentido
A mensagem se refaz
Perante a rima voraz
Deixa o poeta aturdido.

A poesia é a essência
Um estado puro e bruto
É por meio das palavras
Semente que vira fruto
Toma forma de poema
Dá solução ao problema
Assumindo outro atributo.

O metro não sendo algoz
Mas um recurso excelente
Constrói com rimas o ritmo
E estando este presente
Dá beleza e encantamento
Forte, fraco, rápido, lento
Conforme a voz que o invente.

E com palavras e seus sons
Molda-se divina massa
Que se entrega ao poeta
A qualquer hora e de graça
Amante pronta pro gozo
E ele sendo caprichoso
Com ela não se embaraça.

Se castiço ou desbocado
Se laudatório ou ferino
O poema faz seu rumo
Desenha o próprio destino
Nele havendo poesia
Peita toda hipocrisia
Vira oração, vira hino.

Ora vindo de veneta
Como o que se improvisa
Ora painel de azulejos
Justaposição precisa
Pedra assentada com calma
Onde argamassa é a alma
Que na arte se eterniza.

Recife, 16 de agosto de 2009.

9 de agosto de 2009

Versos para o Dia dos Pais

Meu amigo Felipe Júnior, cordelista e editor da Cactus Cordelaria, convidou a mim e a outros poetas para glosarem o mote NÃO QUERO O DIA DOS PAIS/SEM TER PAPAI AO MEU LADO, a fim de compor um cordel coletivo. Não é bem minha praia escrever sobre temas como este sugerido pelo mote, mas como não cabe recusa a pedido de amigo, sai pra minha caminhada dominical (a única da semana, por enquanto) esperando dar na veneta algum estalo de verso sobre o assunto. Ainda no elevador, veio-me o impulso de assumir o poeta fingidor e dar voz a algum "filho de mãe sem pai". Segui pelas ruas do bairro driblando os buracos das calçadas, os cocôs dos cachorros e até uma inesperada faixa de anúncio de venda de imóvel fixada com arame entre dois postes numa "altura tão baixa" que fui obrigado a me curvar para não dar de caracom tão inadmissível obstáculo. Entre uma passada e outra, os versos iam se interligando e guardados na cachola, para depois serem transplantados para o computador.

Já no retorno, passei em frente à Casa de Repouso São Francisco, onde vi, próximo ao portão, três velhinhos conversando, e próximo à entrada, um carro estacionando de onde saiu uma mulher com um pequeno bolo, que, de imediato, imaginei ser para um dos hóspedes estalecimento. Ato contínuo, veio-me mais uma maneira de explorar o mote que nos foi dado, e assim, sem muito esforço, consegui atender à demanda do Felipe e lhe enviei as seguintes estrofes:

GLOSA 1:
Foi grande a sua omissão
Da minha vida um ausente
Jamais me deu um presente
Nem mesmo me deu lição
Qual o seu nome? – Sei não!
Nunca me foi revelado
Porém se eu fosse informado
Onde ele está, ia atrás
RUIM NO DIA DOS PAIS
NÃO TER MEU PAPAI DE LADO.

GLOSA 2:
Por causa do meu estilo
De viver na correria
Achei que melhor faria
Mandar papai pro asilo
Aqui eu vivo tranqüilo
Ele lá é bem cuidado
Todo ano é visitado
E ganha mimos demais
NÃO PASSO UM DIA DOS PAIS
SEM TER PAPAI DO MEU LADO.