19 de setembro de 2010

Amanhecer

Amanhece novamente com nuvens que deixam o céu sombrio. Galhos inertes revelam o silêncio dos ventos.
Nada de riso de criança, de gorgeio de pássaros e nem acordes de frevo. Só a tevê e seu lixo submarinho. Fétidos monturos por onde cruzo. Um esmoler completa o quadro.
É outro meu coração. Falta-lhe uma ânsia qualquer depois de ontem.
Logo mais, no atropelo das missões do dia, disso esquecerei. Volta o burocrata, mas, assim que a noite chegue, também o projeto de moleque, o boêmio, e navegarei em promessas que me faço. Por certo, farei raiva também. Não consigo evitar.
Voltarei pra casa um pouco mais tarde do que dizem que deveria, mas, acredito, ainda a tempo de repactuar os laços de vários lustros.
Sei do caminho, mas preciso dos desvios. Das conversas sem futuro, dos versos noite a dentro, das pândegas cumplicidades, das elásticas saideiras, da construção de possibilidades, da corda bamba que sempre costuma pender pro lado do equilíbiro.
Há sempre riscos, é verdade. Mas, sem eles, não há vida.

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