22 de abril de 2007

Um cordel pra Bob Marley

Ouvindo três passarinhos
Pousados à minha porta
Escrevo aqui o meu verso
Que me alegra e conforta
Mesmo que o pensamento
Viaje por linha torta.

Jah me deu o maior barato
E uma voz então me segue
Dizendo: - poeta vá
Em frente, você consegue
Falar sobre Bob Marley
O eterno rei do reggae.

Ouvindo o som dos seus hits
Numa atitude bem laica
Volto os olhos pro passado
Porém sem visão arcaica
E mergulho com prazer
Nesse mito da Jamaica.

Seu viver foi baseado
Na rastafari cultura
Até com a erva sagrada
Sua atitude era pura
Assim como seus cabelos
Também era uma postura.

Seu jeito de ver a vida
Sua arte e a militância
Era um todo indivisível
Era a sua substância
Por isso fez-se influência
Mesmo estando noutra instância.

De Kingston pra Jamaica
Da Jamaica para o mundo
O menino Bob foi
Um primeiro sem segundo
Até hoje não surgiu
Outro rasta tão fecundo.

A morte rondou-lhe à bala
Num serviço encomendado
Porém Jah lhe protegeu
Skapou do atentado
Pra falar mais forte ainda
Em favor do injustiçado.

Reggae, Rei, Recife, Raça
Os erres da resistência
Revolta, revolução
Reinado da renitência
Remando por rio acima
Re-ligando a consciência.

Rastafari, um pensamento
Um movimento ou um guia
Um jeito de ver a vida
Sendo assim, filosofia
Dando base às atitudes
De protesto e rebeldia.

O reggae como canal
De fazer ouvir a voz
De toda periferia
Que luta contra o algoz
Que se escancha no Poder
Sempre tão mal e feroz.

Dreadlocks não se podam
Nem se poda a liberdade
Bem maior que Jah doou
Para toda humanidade
Quando isso for praticado
Só reina a Felicidade.

Escravagista diáspora
Esquartejando uma raça
E levado ao Novo Mundo
O negro com garra e graça
Fez valer os seus valores
Mesmo com tanta ameaça.

Bob diz: - África una-te
Está passando da hora
A África que há na África
E as que há por mundo afora
Nos guetos e nas favelas
Onde há fome e a dor mora.


Que exista uma só África
Brasil, Jamaica, Benin
África no peito e na mente
Nele, em você e em mim
Nos sons da Tribo de Jah
Dreadlocks e pixaim.

Sons que foram se moldando
Conforme o novo ambiente
Combinações que se nutrem
De uma forma permanente
Reggae, samba, coco, jongo,
Xote, embolada, repente.

Baião, frevo, jazz e blues
Cacuriá, zabelê
Maracatu, caxambu
merengue, maculelê
Forró, salsa, carimbó
Calypso, cateretê.

Bob irmão de Malunguinho
Do Rei Zumbi de Palmares
De Fabião das Queimadas
E de tantos avatares
Exemplos de fortes negros
Anônimos há aos milhares.

Marley partiu, mas deixou
Para nós grande legado
O reggae cobriu o mundo
Entre nós é cultuado
Cava espaço, mostra força
Pereniza o seu reinado.


Desde Walter de Afogados
E o Valdir Afonjá
Bantus Reggae, Manga Rosa
Massativa, Jerivá
Favela Reggae, Brasáfrica
Libertária, Flor de Jah.


Reggai por Nós, Canto Reggae
O Sol tá Massa, N´Zambi
Malungos, Tambor Falante
Matoso, Tonami Dub
Malakai, Abole Gueto
É o reggae dentro do mangue.


Outro guerreiro é o Ívano
E a sua Rebeldia
Mais o Marcelo Santana
Vozes da periferia
Com eles Recife rega
O reggae com ousadia.


É pra Jah, Neblina Reggae,
Rama Seca, Kayamar
Mandala, Anama Roots
Fazendo o povo “reggar”
E muitas e muitas outras
Que não dá nem pra citar.


Peço perdão a quem não
Foi citado nesta lista
Não se trata de exclusão
Nem complô capitalista
Foram as limitações
Dos versos do cordelista.


A terra do frevo rende
Ao reggae sua homenagem
Salve a nossa negritude
Nossa atitude e coragem
Salve o reggae e Bob Marley
Salve o povo e a brodagem.

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