19 de setembro de 2010

Frevianas: Vassourinhas

Meus garis, olha aí , meus garis,
Olha aí, são os meus garis!

Que varreriam as ruas do Recife (antigo e digital)
E das Olindas também
Porém eles
Foram além
E fizeram o hino, o mantra

As troças varrem as ruas
Numa enxurrada de gente
Sem léu nem déu
E como uma cartola
Quanto mais descem
Mais querem subir
Quanto mais se passa
Mais há de passar

Aquela menina do cabelo curto (*)
Me segura na troça
Tava lá no domingo
Tava também na segunda,
Na mesma calçada dizendo:
- Varre! ... Varre! ... Varre!
Instigando a orquestra-vassoura
A levar os foliões
27 de Janeiro abaixo.

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(*)-No carnaval de 2008, quando eu seguia o Tanajura com Farinha, era domingo, fui instigado a fazer umas misuras por uma alegre foliona que estava com um grupo de amigos, bem próximo à sede de Pitombeiras. Após alguns segundos de meneios, ela já estava fazendo reverência a outro folião, volúvel aos parceiros, mas fiel à folia. No dia seguinte, quando passei pelo mesmo local, lá estava ela e seu grupo, reproduzindo o mesmo ritual: saudando os foliões, fazendo umas mungangas com algum escolhido, e, depois de algum tempo, satisfeita, mandando a troça passar, como uma rainha grega, ávida pelo transitório.




Frevianas: Come e dorme

Fervo no frege do frevo
No carnaval, é vero,
Há quem só come e dorme...
Outros não.
Frevam, batucam, catucam,
beijam, agarram e comem...
E dormem também, o sono justo.
Para horas depois
começar tudo novamente
Assim, pulam frevo, pulam cerca
E se desembestam
vestidos de besta-fera.


Frevianas: Último dia

Chega o último dia,
Mas ainda não fiquei levi(a)no
Não sou tão vivo como o mestre
Mas vivo querendo sê-lo
Só que não sou carta
E, se fosse,
talvez estivesse fora do baralho.

Só freeeevô... freeeeevôô...
freeeeevôô... freeeeevôô
faz a minha cabeça
do primeiro ao último dia
que pra mim continua sendo a terça
Afora os bois de Dona Dá.

Frevo, ladeira, cerveja
E toda beleza que passa à minha frente
Vão plantando, assim,
Nova semente.



Frevianas: Fogão!!!

É muito fogo desse povo folião
Para fazer frever assim
é mais que fogo, é fogão.
E ainda por cima, tem esse sol de Olinda
derretendo o juízo
queimando a massa que alucina.

Desejos a mais de mil
Carmo, São Pedro, Bonfim
Quatro Cantos, Amparo
Um mar de gente, sem fim.
Na Ribeira e prefeitura
Pega fogo o estopim.

Amanhecer

Amanhece novamente com nuvens que deixam o céu sombrio. Galhos inertes revelam o silêncio dos ventos.
Nada de riso de criança, de gorgeio de pássaros e nem acordes de frevo. Só a tevê e seu lixo submarinho. Fétidos monturos por onde cruzo. Um esmoler completa o quadro.
É outro meu coração. Falta-lhe uma ânsia qualquer depois de ontem.
Logo mais, no atropelo das missões do dia, disso esquecerei. Volta o burocrata, mas, assim que a noite chegue, também o projeto de moleque, o boêmio, e navegarei em promessas que me faço. Por certo, farei raiva também. Não consigo evitar.
Voltarei pra casa um pouco mais tarde do que dizem que deveria, mas, acredito, ainda a tempo de repactuar os laços de vários lustros.
Sei do caminho, mas preciso dos desvios. Das conversas sem futuro, dos versos noite a dentro, das pândegas cumplicidades, das elásticas saideiras, da construção de possibilidades, da corda bamba que sempre costuma pender pro lado do equilíbiro.
Há sempre riscos, é verdade. Mas, sem eles, não há vida.

12 de setembro de 2010

MELANCOLIA

Vagam em mim ondas de inércia
Vontade de silêncio
Torpor inexplicável

As horas passam
A chuva passou
Mas este domingo continua uma eternidade...

27/08/2010.