18 de agosto de 2007

Unicordel fazendo bonito na Recitata!!!!


Mariane Bígio (1º lugar) e Altair Leal (3º lugar) - Unicordelistas
classificados na primeira eliminatória da II Recitata.
(Foto de Susana Morais)


Mercado da Boa Vista. Sábado de muita expectativa e emoção. Primeira eliminatória do Recitata. Chego às dez horas, muitos poetas já presentes, confirmo minha presença junto à organização do concurso e, ao lembrar que meu desjejum só havia sido um copinho de manguzá do Jalon na feira de orgânicos da Praça de Casa Forte, vou até o Bar do Batatinha comer um cuscuz com guisado, pra forrar o estômago e me preparar pra agüentar o rojão do dia.


Mais poetas vão chegando, e seus amigos também, para torcer ou apenas se embebedar com a poesia que o dia promete. E não só com a poesia, porque doses e garrafas de cerveja começam a enfeitar mesas e balcões, inclusive a minha, é lógico! Beto, Batatinha, Leleu, Cristina, Come Quieto e outros mais supridores de bebidas e iguarias também serão coadjuvantes desta festa que se arrasta ao longo da tarde e arrisca entrar pela boca da noite.

Festa para a Unicordel. Entre os quarenta e quatro concorrentes do dia, nove fazem parte do nosso movimento (Honório, Mauro, Ângela, Valério, Evangelista, Cícero, Mariane, Altair e Felipe). Todos fizeram bonito, mandaram bem o recado, deixaram a poesia popular em evidência. Dois sagraram-se vitoriosos e vão pra final (Mariane, em primeiríssimo lugar e Altair, em terceiro), e por uma peinha de nada não emplacamos o terceiro. E Felipe merecia. Mas a peneira era muito fina e concurso tem disso.

A vitória d´A Mãe que Pariu um Mundo foi mesmo justa e merecida. Este primeiro cordel (ainda inédito, mas que possivelmente será lançado na Festival do Livro, domingo próximo) de Mariane tem tudo pra se tornar um clássico (diria até que já é) da poesia popular. Sinto-me feliz em ter colaborado para que ela se envolvesse com esse nosso mundo do verso e entrasse para a tropa da Unicordel. Pena não ter muito tempo pra gente por conta dos estudos e de outras prioridades, mas é um orgulho termos na Unicordel essa jovem, talentosa e bela garota de dezenove anos, sendo ela também um exemplo de renovação no cordel, tanto no que se refere à idade, quanto à presença feminina. Eis alguns trechos deste belíssimo poema:

“Antes era o universo
Um vão negro de dar dó
Tinha nada, só estrelas
Feitas de brilhante pó
Espalhadas pelo Vento
Que então reinava só.

O Senhor do Infinito
Cansou da escuridão
Teve idéia de fazer
A grande rebelião:
Tomou uma das estrelas
E a pôs em sua mão

Disse: estrela! oh, estrela!
Me cansei de ser sozinho
Nem o Vento é meu amigo
Pois é rei e é mesquinho
E também cansei do preto,
Que enegrece meu caminho

Sou Senhor do Infinito!
Quero muito colorir!
O universo é a tela
E de ti há de surgir
A mais prima obra-prima
O Mundo irás parir!

Nessa hora, emocionado
O Senhor lacrimejou
Uma água doce , cálida
Pela face lhe rolou
Pranto-sumo, seiva bruta
À estrela alimentou.

Esta fez-se então mulher
Com os seios volumosos
Com as ancas abarcantes
Os quadris voluptuosos
Já no âmago levava
Os pinguinhos preciosos...

Bem longe da proteção
Daquele que lhe criou
Ela descansava leve
Quando o Vento a rondou:
Sinto falta duma estrela
Acho que Ele roubou!

Amaldiçoada seja,
Tua cria ao nascer!
Vejo brilho no teu rastro!
És estrela, posso ver!
No Mundo que vai chegar
Vis desgraças hão de ter!

O Senhor ao escutar
Acudiu em seu favor
Fez do Vento simples brisa
Pra soprar quando calor
Acalmou a prenha-astral
E beijou-lhe com amor.

De repente houve um estrondo
A mulher soltou um grito...
Uma água caudalosa
Pingou do ventre contrito
Cheia de sal e de vidas
(Eis o Mar aqui descrito)

Logo após a enxurrada
Veio então a dor imensa
Pois o sólido doía
De maneira muito intensa
A mulher acocorou
Fez dos braços uma prensa

Finalmente um grito mudo
Era um “ai” do coração
Uma gota de suor
Gotejou na imensidão
E o Mundo foi expulso
Com enorme profusão...

A mulher aliviada
Ali mesmo adormeceu
Com o peito apertado
Que nem ela entendeu
Queria afagar o Mundo
Tê-lo sempre ao lado seu

O Senhor , pra terminar
Sua imensa aquarela
Fez com a ponta do dedo
Mais uns pontos nessa tela
Fez o Sol, astro maior
Bola de fogo-amarela

E assim o Mundo segue
Com o Mal e com o Bem
Pois a maldição do Vento
Fez-se fato aqui também
Mesmo que sua mãe vele
A tristeza vive aquém

Quase ao fim, urge lembrar
O Mundo é bom em essência
Fruto de vontade pura
Colorindo a existência
Foi nutrido com o líquido
Da bondade em excelência

Há desgraças é verdade
Mas há muita alegria
Seus filhos conhecem dor
Mas o Amor em primazia
Reina no fundo do ser
Em cada um, cada dia.”

Sábado que vem tem mais. Kerlle com Adiel, Madalena Castro, Meca Moreno e Susana Morais. Vamos torcer para que tenha mais unicordelista no domingo, lá na Praça do Arsenal, Recife Antigo, na final do Recitata, que acontecerá durante a Festa do Livro, a partir das 14 horas.

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Em tempo: Além dos nossos companheiros, a poesia popular foi defendida pelos amigos cordelistas Edvaldo Bronzeado, Júnior Vieira e Alberto Oliveira.

4 comentários:

Susana disse...

Emocionante! essa é a palavra que uso pra definir este dia de sábado no Mercado da Boa Vista, um lugar inebriante, embriagante, aconchegante onde sempre sobra espaço pra poesia da boa.
Todos os poetas, sem excessão, conseguiram me emocionar dando o melhor de si com toda a clareza e simplicidade. Mas de fato nossa querida Mariane brilhou e conseguiu com muito mérito o 1° lugar de um patamar, subiu o 1° degrau de uma escada de glórias e glosas poéticas!!!

Parabéns querida Mari! Você merece.
Viva as mães, viva o cordel, viva a poesia! Salve!!!!

mariane disse...

foi mesmo uma grande honra!
não imaginei o primeiro lugar...
só de participar..em meio a tantos nomes talentosos, eu já me dava por satisfeita!
agora é torcer para que eu repita ou faça ainda melhor no domingo!
e que os demais unicordelistas me acompanhem!
obrigada a honório (mentor, mestre, amigo, empresário, etc.)
a susana...que me deu tanta força...à minha mãe, musa inspiradora...e a todos os outros presentes!
sábado estarei torcendo pelos unicordelistas, em especial, e por todos os que merecem completar o quadro de finalistas...

"é preciso estar sempre bêbado...de poesia, de amor, de vinho..."

embriagai-vos!

(baudelaire...um tanto modificado...hihihih)

tab'ta disse...

mari é interpréte, poetisa e sorriso largo.
mais que merecido o primeirolugar, redundante entro pro coro.
é a própria revolução personificada.

Givaldo disse...

Meu caro Honório,
Que Deus o conserve sempre POETA !

Muito bom ver este matuto da capitá, inteiramente dedicado e fiel ao cordelismo. Honório, meu irmão, vc é necessário.

Então, meu velho, nestas suas rescentes passagens por Caruaru, lembrou o "rato" ?

Um abraço.

Givaldo