23 de setembro de 2007

E a praça foi dos poetas...



Eu na Praça Tomé de Souza (Salvador-BA): com minha companheira e o cordelista Antônio Barreto (alto, à esquerda), eu declamando (alto à direita, e baixo, à esquerda); com os cordelistas Antônio Barreto (vermelho) e Jotacê Freitas (azul). Foto: Aparecida França (19-set-07);

Fim de tarde de uma última quarta-feira de inverno. Enquanto a aparelhagem de som era instalada sob o toldo na praça, o sol começava a se esconder e aos poucos os poetas e atores-declamadores ia chegando. Douglas de Almeida, o organizador do recital, vez por outra anunciava: - Aproximem-se! Agora, dentro de alguns instantes, nosso recital vai começar. E sapecava ao microfone alguns “torpedos poéticos” despertando a atenção dos transeuntes, atraindo alguns deles que espontaneamente foram formando a tradicional roda.

A certa altura, começa a função. Os versos ecoam e o povo pára prestigiando os poetas na praça. Douglas de Almeida, Antônio Barreto, Jotacê Freitas, grupos de teatros e outros declamadores, inclusive, eu, anunciado bombasticamente como um cordelista recifense que tinha ido a Salvador especialmente para participar daquele recital. Coisa de baiano? Coisa de poeta? Nada disso! Forma carinhosa de dar-me as boas-vindas e valorizar a minha presença naquele ambiente, naquele momento. E tentando não fazer feio, tirei da cartola (e da cachola) o Nascimento de Trupizupe, de Bráulio Tavares, e criada a empatia com o público, saquei do bolso o meu Cordel Pra Bob Marley, do qual li algumas estrofes e sacramentei minha passagem pela Bahia de todos os versos.

O mais inusitado de tudo isso é que praticamente estava ali por acaso, se é que ele existe. É que eu (e minha companheira) chegara à capital baiana algumas horas antes, aproveitando alguns dias das férias para uma visita ao amigo Barreto, poeta e professor, a quem conheci há dois anos em Serra Talhada, no evento Tributo a Lampião, e que me deu a honra de recebê-lo em minha singela casa ano passado. Retribuindo-lhe a visita, sou recepcionado no aeroporto pelo amigo cordelista, deixo os teréns no seu agradável apartamento na Piedade, saímos para um rápido almoço (não confundir com fast food) e pronto, lá vamos nós para o primeiro encontro com a cultura soteropolitana. Foi o Festival de Poesia Salvador Cachoeira. E esse pernambucano enxerido, e metido na roda pelo seu anfitrião baiano, ainda ia teve uma brecha para declamar no recital que se deu na noite seguinte, no Teatro Gregório de Matos. Foi muito amostramento pra quem só pensava que iria visitar o Pelourinho, comer caruru e conhecer Itaparica, como um simples visitante.

Mas como diz o ditado nunca mais ouvido: mais vale um amigo na praça que dinheiro na Caixa. Foi graças a esse amigo que conheci uma Salvador muito diferente do que é exaustivamente vendido pra turista.

Saravá Antônio Barreto, com seus cordéis, suas gaitas e seu violão tão sertanejo!
Saravá Jotacê Freitas e sua recriação de Cuíca de Santo Amaro!
Saravá Antônio Paraíba, com sua Banca dos Trovadores estrategicamente instalada na praça do Mercado Modelo!
Saravá todos os Poetas da Praça, em especial Douglas Freitas e Geraldo Maia, com sua performance visceral e seu verso contundente.

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