26 de abril de 2007

Raquel e Saldanha ou Essa mulher é demais!!!


(versos de José Honório)

O mundo dá muita volta
não pára nenhum segundo
e muita gente é assim
vive a rodar pelo mundo
ora aqui, ora acolá
porém sem ser vagabundo.

Normalmente é o trabalho
que leva a ser desse jeito
viver nessa correria
às vezes sem ter direito
ao lazer e ao descanso
importante pra o sujeito.

Quase sempre é coisa boa
levar uma vida assim
conhecer gente e lugares
fugir da rotina, enfim
mas às vezes perde a graça
e acaba sendo ruim.

Por levar vida cigana
sem pouso, sem seu cantinho
sem o refúgio tão bom
do aconchego de um ninho
isso atrapalha e faz falta
ao bem-estar é daninho.

É como vive uma jovem
que tem nome de Raquel
que na novela da vida
faz importante papel
e por isso agora é
personagem do cordel.

Alta, linda, inteligente
um poço de simpatia
moça de muito talento
da mais sublime energia
eis só algumas virtudes
que se vê nessa guria.

Desde cedo sempre ativa
garantindo o seu lugar
se impondo entre os demais
sem ferir nem magoar
apenas com seu jeitinho
tão próprio de conquistar.

Mas o seu jeito seguro
apesar de lhe ajudar
a crescer na vida em grupo
possui um particular
parece que lhe atrapalha
na hora de namorar.

Parece até que amedronta
os homens, que coisa estranha!
por isso, o seu primeiro
namoradinho, o Saldanha
arranjou numa excursão
quando ela foi à Espanha.

Não conquistou um toureiro
nem dançarino gitano
conquistou um brasileiro
do povo de Ariano
voltou com ele da Espanha
já cheia de sonho e plano.

Porém passado algum tempo
voltando à velha rotina
as unhas vieram à tona
de uma forma ferina
e os problemas chegaram
desafiando a menina.

Desafio de cuidar
desse seu lado afetivo
e de cavar seu futuro
de modo bem decisivo
administrando os conflitos
com seu amor tão cativo.

Cativo dos seus encantos
do seu jeito sedutor
cativante e ao mesmo tempo
um pouco ameaçador
para quem era inseguro
e um aprendiz do amor.

Ela segura de si
ele todo temeroso
ela solta e envolvente
ele fechado e raivoso
bloqueado e ciumento
fazendo papel de Bozo.

Brigava sem fundamento
como foi num certo dia
que ela chamou um amigo
do curso que ela fazia
para ir à sua casa
estudar Anatomia.

Dia e tarde no trabalho
de noite na faculdade
então ao chegar em casa
quis ficar mais à vontade
foi ao quarto, pôs um short
que lhe deu mais liberdade.

Serviu logo uma bebida
ligou o som bem baixinho
pois já passava das dez
e respeitava o vizinho
além disso, ia "istudá"
com aquele seu amiguinho.

Só os dois naquele apê
com apenas duas horas
pra fazer o que queriam
não podiam ter demora
ela olhou pra ele e disse:
Vamos começar agora!

E foi logo abrindo as pernas
dos óculos e o pôs no rosto
meteram a cara nos livros
ela esperta, ele disposto
e foram até meia-noite
estudando assim com gosto.

Acontece que Saldanha
lá chegou sem avisar
nem tocou a campainha
(tinha a chave para entrar)
e ao ver os dois na sala
mostrou ele não gostar.

Fico de cara amarrada
se sentindo um grande trouxa
olhando assim com censura
para o roliço das coxas
de Raquel naquele short
e ela de raiva, roxa.

Primeiro pela invasão
da sua privacidade
segundo, pela suspeita
de alguma leviandade
coisa que ela jamais
de fazer teve vontade.

Muito embora o tal amigo
mesmo ficando calado
ao vê-la naquele short
bem curtinho e apertado
não resistiu aos desejos
e ficou meio atacado.

Desejou deixar de lado
os livros e tudo mais
e agarrar-se com ela
- Ah, seria bom demais!
mas, mesmo assim desejando-a
não tentaria jamais.

Por causa do bom-mocismo
e também da amizade
que existia entre os dois
ele conteve a vontade
respirou fundo e voltou
à normal tranqüilidade.

Mesmo assim nasceu mais uma
desavença entre o casal
briga vai e briga vem
já era coisa normal
um nascido para o outro
mas nesta atração fatal.

Até quando ela chegou
à mais dura conclusão
- Eu estou numa roubada
já tomei a decisão
Um basta definitivo
eu vou dar à relação.

E como essa, outras vezes
ela fez bem decidida
mas ele não aceitava
Dizendo aos prantos: - Querida
não faça isso, você
é a razão da minha vida.

E ela voltava atrás
pois dele muito gostava
e só queria acabar
porque não mais agüentava
a pressão do namorado
que muito lhe incomodava.

E não se via casando
para cuidar só do lar
do marido e dos meninos
tinha espaço a conquistar
pois a sua independência
vinha em primeiro lugar.

Um dia desfez-se o laço
Saldanha compreendeu
com a perda da amada
por muito tempo sofreu
mas que era melhor pra ambos
finalmente ele entendeu.

E ela ganhou o mundo
com garra, disposição
onde chega faz sucesso
da clientela ao chefão
ainda só não deu jeito
nas coisas do coração.

Teve mais uns namorados
e até noiva ficou
porém nenhum foi em frente
hoje até já aceitou
não ter mais ansiedade
e não mais se estressou.

E nem se queixa do jeito
que escolheu pra viver
cada vez progride mais
e muito mais vai crescer
porque tem bons atributos
para dar e pra vender.

E quando bate a carência
de um xodó, de um chamego
ela liga pra Saldanha
e diz: - Vem pra cá, meu nego
não importa onde ela esteja
ele diz: - Já, já eu chego.

E assim a vida segue
cada qual encontre o jeito
de amar e ser feliz
rompendo até preconceito
porque a Felicidade
é o nosso maior direito.

FIM

(Palmares, 26-04-2007)

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Um comentário:

Josefina disse...

Olá, Honório. Cada vez que vejo algo da sua criação fico maravilhada - não só pela criatividade, mas pela própria humanidade que vc. expressa. as poesias são muito boas, engraçadas e, sobretudo, libertárias. Grande Beijo. Josefina.