27 de março de 2010

ACORDOU FELIZ

Ela acordou feliz. Nenhum motivo especial para isso. Não acertou na Mega-sena, não tirou dez na prova de ontem, pois prova não teve, não aceitou algum pedido de namoro, embora pedidos assim não lhe faltem, nem ganhou um antecipado presente de Páscoa. Mas ela acordou feliz. Ainda não eram sete horas e já estava com o som ligado, numa altura que não incomodasse o povo de casa, que ainda dormia, e nem os vizinhos sensíveis, mas o suficiente para dançar serelepe no meio da sala, ora embalada por Calaypso, ora por frevos vários, relembrando os "velhos carnavais" do mês passado. Jogou inúmeras vezes seus cabelos pra frente tal qual a Joelma idolatrada. Afastou o sofá, pegou a sombrinha e, toda sorridente, sapecou locomotivas e tramelas.

Era uma felicidade tão clandestina que até se espantou, demorando a entender que a gente nasceu pra ser feliz. Que felicidade não precisa de hora marcada e nem razão que a explique. E, caindo na real, continuou dançando todos os ritmos. Os conhecidos e os imaginários. E de tão feliz que estava, deu-se ao luxo de recusar a ida a um forrozinho, onde, se acaso tivesse ido, certamente iria espalhar essa felicidade gratuita no salão e entorno.

Era toda serotonina. No riso, no olhar, na pele, no corpo inteiro e além dele. Na alma, na aura, no espaço em sua volta. E assim ficou pra sempre na mente de quem a viu e há de sempre ser no desejo de quem lhe quer bem.




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